28.4.09

O CARÁTER ARTÍSTICO DA CIDADE



Por Rosane Felix e Sanzia Pinheiro
A cidade como um acervo de arte, é o que sugere um grafite belíssimo na esquina da Avenida Prudente de Morais com a Rua Miguel Castro. O trabalho, possuidor de grande delicadeza é assinado por Japers. Na imagem é possível ler duas frases “solte as flores” e na “teoria a prática é outra”. A primeira nos fez pensar no artigo de Lúcia Marciel Barbosa de Oliveira e Liliana Sousa e Silva, a Cidade Como Experimentação no qual as autoras pensam a cidade como projeto coletivo: A cidade como teatro do encontro, como espaço de criatividade, como sistema de vida que desenvolve desejos e como projeto cultural.
A idéia de coletivo se distancia das idéias de massa e povo e se aproxima da idéia de coletivo como afirmação de uma multiplicidade de singularidades, de individualidades, voltadas para a ação conjunta. Neste sentido é interessante pensar a “poética do espaço” presente no transitório diálogo que produções marginalizadas, tão presentes em nosso cotidiano como o grafite, lambes e stencil pelas ruas, lançam ao transeunte que vivencia e observa o espaço. Questões de significado diverso, como o pertencimento, o simbolismo e historicidade presentes no ato de apropriação de lugares públicos, por parte de artistas invisíveis que compartilham conosco suas intervenções.
A importância de entender a cidade, enquanto produção artística, fruto não só do planejamento urbanístico, mas da representação que a ela dermos através de nossa percepção, estabelece diálogos de naturezas diversas através da arte, adicionando possibilidades que extrapolam o fluxo utilitário do espaço público cotidiano. O significado dessa experiência perceptiva fomenta a compreensão da cidade como um coletivo de interesses diversos, que reconhece o imaginário de cada morador como símbolo e parte da sua história.
“Na prática a teoria é outra” e “solte as flores”, fazem pensar na cidade como um lugar poético, portanto estético e artístico. Lembra o poema “a flor e a náusea” de Drummond. A arte das ruas nos oferece a oportunidade de quebrar a uniformidade dos dias, forjando com linhas, formas e cores novas possibilidades de existir e vivenciar Natal. Perceber a arte na cidade seria então um convite a “soltar as flores” de nossa percepção, ao percorre a cidade que vivenciamos, deflagrando assim, um olhar assimétrico sobre a própria arquitetura do ambiente e sobre acontecimentos sociais e políticos.

Um comentário:

Rubens Barbosa disse...

Ai que orgulho de minha pure escritorinha!
=*

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as definições, as conceituações, me entram, como se diz, por um ouvido e saem pelo outro... sou.