28.7.09

cabaça


ou meu coração cabaça

o buraco da cabaça
é do tamanho de meu coração...
meu coração é grande,
cabe tanto som...

fruta gogoia

ou seu olho me olha mas não me pode alcançar...

Eu sou uma fruta gogoia
Eu sou uma moça
Eu sou calunga de louça
Eu sou uma jóia
Eu sou a chuva que molha
Que refresca bem
Eu sou o balanço do trem
Carreira de Tróia
Eu sou a tirana bóia
Eu sou o mar
Samba que eu ensaiar
Mestre não olha

21.7.09

desejos

ou um jogo

um dia de céu sempre azul
sorrisos sinceros
alegria de viver
prazer entre corpos
um copo d'água que mate minha sede
dormir mais para sonhar
família, trilho, flor
amigos reunidos
respeito e carinho
a profundeza do mar
e um brinco de diamantes...
só isso...

...que se faça o desejado!

pensar

eu apresento a página branca
contra:
burocratas travestidos de poetas
sem-graças travestidos de sérios
anões travestidos de criança
complacentes travestidos de justos
jingles travestidos de rock
estórias travestidas de cinema
chatos travestidos de coitados
pacivos travestidos de pacatos
medo travestido de senso
censores travestidos de sensores
palavras travestidas de sentido
palavras caladas travestidas de silêncio
obscuros travestidos de complexos
bois travestidos de touros
fraquezas travestidas de virtudes
bagaços travestidos de polpa
bagos travestidos de cérebros
celas travestidas de lares
paisanas travestidos de drogados
lobos travestidos de cordeiro
pedantes travestidos de cultos
egos travestidos de erros
lerdos travestidos de zen
burrices travestidas de citações
água travestida de chuva
aquário travestido de tevê
água travestida de vinho
água solta apagando o afago do fogo
água mole em pedra dura
água parada onde estagnam os impulsos
água que turva as lentes
e enferruja as lâminas
água morna do bom gosto,
do bom senso das boas intensões
insípida, amorfa, inodora, incolor
água que o comerciante esperto
coloca na garrafa de whisky
água onde não há seca
água onde não há sede
água em abundância
água em excesso
água em palavras
eu apresento a página em branco
a árvore sem sementes
o vidro sem nada na frente
contra a água
por arnaldo antunes, registrado em 25/11/1990 numa agenda de 1987...

livro de artista

ou a mulher que foi pássaro...






.apropriação do poema visual"genocídio" de avelino de araújo.
.partindo do texto "pai... ou a mulher que foi pássaro.

" eu poderia abrir as portas e janelas que dão para dentro.
te matar com uma faca de cozinha,
me livrando assim do fantasma que me escraviza a você,
dilacerando o melhor de mim.
tudo aqui continua escuro e fechado.
talvez permaneça assim para sempre,
como saberei...
a escuridão me atordoa...
teu fantasma me sufoca...
por vezes, muito raras,
passa por aqui um vento...
são momentos maravilhosos em que sonho...
sim, sonho...
quase chego a sentir a alegria de voar novamente...
relembro com pesar ...
a mulher que habito, perdeu as asas...
escrito em 14/12/1993





brilho fixo




o olhar viciado,


cega...


quando ampliado,


vê contrastes,


no tanto mesmo lugar...


duna

"na profundidade do inconsciente humano, existe uma necessidade penetrante de um universo lógico, que faça sentido. mas o universo real está sempre um passo adiante da lógica."

"não importa quão exótica se torne a civilização humana, não importam os acontecimentos da vida e da sociedade, nem a complexidade da interface humano/máquina, há sempre interlúdios de poder solitário, quando o curso da humanidade, seu próprio futuro, depende de ações relativamente simples a cargo de indivíduos solitários."

frank herbert, autor de duna, história composta por seis livros dos quais li três...
só posso dizer que é fascinante o poder da criatividade humana...
ele criou planetas, sistemas políticos, culturais, econômicos e religiosos de forma espetacular...
vale a pena ser lido.

20.7.09

passado


".seja passado o passado.
.tome-se outra vereda e pronto."


ontem me preparei para uma revelação...
ritualizei o momento de dormir, como havia tempo não fazia.
sempre preferi o intuido ao filosofado...
me banhei na cachoeira do banheiro,
me cuidei como deusa...
pele, cabelos e unhas...
por dentro ervas sagradas...
em meu aposento o aroma que eleva.
muito ar,calma, silêncio e sono profundo...
no sonho, entrei num lugar proibido...
me encontraram...
meu dedo sangrava muito
fui levada até a saída por um guardião,
ele era uma senhora velha e simpática que me indicava a saída sorrindo.
parei diante de uma gameleira...
que me deixou com um ar de maravilha...
posto que suas raizes eram ligadas ao portão/portal...
ela o abriu com um gesto firme...
eu sai por um caminho de barro... por um lugar que já andei em sonhos...
minha revelação foi:
o que é presente não passou ainda. o passado, só pode passar, quando passa realmente.
enquanto isso sigo enraizando no caminho...


( cortei o dedo quando você se foi... e ainda não parou... só quando você voltar meu amor... ai eu paro de sangrar...)

18.7.09

contos e ilusões


desde que posso memorar, ler é algo mágico, para mim...

26 letrinhas e uma imensidão de probabilidades combinatórias, com ajuda dos sinais de pontuação e... lá se vão pessoas, mundos, sentimentos...

todo tipo de ilusão, que em verdade reflete nossas mais profundas (ou superficiais?) fantasias...

claro que estou falando de ficção...

mas existe algo que não o seja?

do pouco que já li, fui marcada por muitos autores...

quero falar de um que me acompanha desde os idos anos 80...

.neil gaiman.

para mim, um edgar alan poe contemporâneo...

comecei lendo sandman... incrível pesadelo!

hoje, do que já foi publicado dele por aqui, li e tenho quase tudo...

ontem começei a reler "fumaça e espelhos", uma coletânea de contos...


uma introdução


escrever é voar em sonhos.

quando você se lembra.quando pode.quando dá certo.

é muito fácil.


-caderno de notas do autor, fevereiro de 1992.



"é um truque com espelhos. trata-se de um clichê, não há dúvida, mas não deixa de ser verdade.

.........................................................................................................

(a fumaça borra o contorno das coisas)

histórias são, de um modo ou de outro, espelhos. nós as usamos para explicar como funciona ou não o mundo. tal qual espelhos, elas nos preparam para os dias que virão. afastam nossa atenção das coisas que se ocultam nas trevas.

a fantasia - e toda fantasia de uma espécie ou de outra - é um espelho. um espelho distorcido, não há dúvida, do tipo que oculta, posicionado a quarenta e cinco graus da realidade, mas ainda assim um espelho que podemos empregar para nos revelar coisas que de outra forma, não poderíamos ver"

15.7.09

essa menina

é tanta alegria...
que até canto.
junto comigo
outras vozes...
pessoas que
seus males espantam.
celebramos vida e amizade...
celebramos nossa humanidade.
" tanto mar...
me dê vento e vela...
e razão prá ficar".

12.7.09

a imagem

ou todo o "blues" do amor

seu corpo é vidro por dentro
em verdade,
ela gostaria de descrever o breve instante
que sentiu seu corpo todo como um aposento
onde entrava luz através da vidraça
molhada pela chuva...
impossível descrever com precisão
a temperatura da água que a derretia...
projetando nas paredes de si, a imagem do tremor.

chuva na vidraça

assim ela sente por dentro...
um escorrer tênue do amor.
há em si, uma imensa vibração
que provoca
o improvável movimento de implosão.
certa de ser,
vai seguindo vidro,
intacta e diluida pela chuva.

3.7.09

fogo


ou ardência...



seu beijo

de voz...

de boca...

de língua...

me queimou

por dentro.

ardo...
em 02/07/2009...

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