Coleti(arte)vismo
Ou transgressões convergentes
Rosane Felix
Discutir Arte como um conceito puro tornou-se praticamente estéril. Por mais que teorizemos, ela (com letra maiúscula ou minúscula) permeia setores sociais, atende a distintos e diversos interesses que por vezes, sem fim, se chocam e se anulam.
O caminho artístico pressupõe domínio de técnicas, uso de materiais e procedimentos institucionalizados ao longo do tempo, que têm sido postos em xeque no ocidente desde os primeiros movimentos modernistas.
Experiências artísticas deflagradas por coletivos como o GIA_BA, o ENTORNO_DF, o OXENTE_RN, o EIA_SP, dentre outros, expressam mundos particulares que são trazidos para a esfera das políticas culturais e dos direitos civis em países “democráticos”, onde sabemos que esses direitos dificilmente poderão ser exercidos pela maioria da população, inscrita numa condição de pobreza e ignorância extremas.
O ativismo na arte contemporânea mostra claramente o quanto é necessário imprimir na existência humana a condição artístico-estética de ser e estar no corpo, no bairro, na cidade, enfim, na realidade social e cultural de onde se está inserido, vivenciando a expressão de nossas ações cotidianas.
É interessante refletir sobre a produção artística coletiva, que tem suas origens na década de 70/80, com grupos como o Viajou sem Passaporte, 3Nós3 e Manga Rosa, cujas ações tinham claros objetivos políticos, em contraponto a muitas ações coletivas da atualidade que se configuram muito mais como um espaço de sociabilidade, visibilidade e subjetividade que por outras vias seriam praticamente inexistentes, convergindo para novas transgressões nos campos da arte. Tudo passa a ser transitório, investigativo, vivencial, abre lacunas, interroga, preocupa, causa estranhamento e transformação.
Há um ciclo que se constitui a partir dessas ações,como o despontar no próprio coletivo de artistas com propostas mais consistentes aos demais, participações em exposições, salões, bienais e afins, residências. Todo esse movimento não substitui o mercado e o circuito da arte, mas realiza uma ventilação, insere novos e paralelos circuitos, amplia a atuação crítica e curatorial.
Ainda não somos a projeção do discurso ético, político e estético que precisamos, mas também não somos a sombra do velho discurso projetado na modernidade.
Estamos construindo um discurso através de ações coletivas que dêem conta das realidades e dos indivíduos, produzindo arranhões na estrutura de maneira hibrida, fluida e conectiva, que libere nosso poder criativo de viver ética e dignamente.
Texto publicado no Jornal Tribuna do Norte 14 de abril de 2009
Caderno Viver
Coluna Fermentações Visuais por Sânzia Pinheiro
Publicado também no Blog Neoiluminismo por Tiago Franz : http://neoiluminismo.wordpress.com/2009/04/17/coletiartevismo-ou-transgressoes-convergentes/
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