ela demora e reluta em sair da casa, naquele dia de céu azul e vento frio que como uma lingua gelada, lambe as partes expostas do seu corpo.
saiu de casa para pegar de volta suas jóias.
não eram caras, mas preciosas.
um anel,presente de uma amiga de infância para sua mãe,que acabou em seu dedo, porque se engraçou dele um dia, e a mãe generosa deixou que ela usasse. nunca mais devolveu.em suas memórias,foi um presente que sua mãe lhe deu.
a pulseira de prata, que fazia parte de um conjunto de três pulseiras, ela mesma havia comprado há alguns anos atrás.
investida de poder, jóias deixam mulheres mais poderosas,ela decide ir à praia.
o mar estava violento e as ondas fortes.
como uma criança, ela brincou com a força do elemento água.
havia muita energia, como se as ondas estivessem em sintonia com seus sentimentos.
era fim de tarde, a praia estava deserta.
esse fato, reforçou seu sentimento de integração com a natureza.
sentia-se como um animal, integrada na paisagem marinha.
a conciência dessa representação, aumentou sua entrega àquele momento impar.
foi adentrando cada vez mais ao mar. sentiu que suas pernas mudavam de forma.
conseguia mergulhar cada vez mais fundo e por mais tempo.
brincando assim, se completou a transformação.
nunca mais foi vista.
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