21.10.09

funeral

ou o pato, a morte e a tulipa

um gemido de dor anuncia o fim de uma vida. fim no aqui, no agora. mais uma ida pelo avesso... saio de minha dor mar e mergulho na dor oceano dela. a vivência desse momento difícil transbordou força em ondas de amor. ao deitar em suas raízes, seu fruto filho mostrou ser maior do que se sabia...


Tema difícil a morte. Certeza eminente, mesmo assim, sempre nos surpreende .
Existe uma história linda...  "As intermitências da morte", de José Saramago.
Nela a morte que sente o que é vida,  se apaixona e não mata mais ninguém, provocando um caos na humanidade.
No livro "A grande questão" vários personagens respondem por que viemos ao mundo.
O passarinho diz que é para cantarmos nossa própria canção, o jardineiro diz que é para sermos pacientes, o marinheiro diz que é para navegarmos por todos os mares.
A pedra diz que é para estarmos aqui e pronto.
O pato diz não ter a menor idéia e a morte diz que é para amarmos a vida...
Essa mesma morte, reaparece em outro livro de Wolf Erlbruch.
Nele a morte aparece pela primeira vez para o pato que não fazia a menor idéia do que veio fazer no mundo.
A história começa por uma sensação de incomodo, uma inquietação...
O pato percebe que a morte está ao seu lado e descobre que ela tem um sorriso amigo, sendo até simpática  se esquecermos "quem ela é".


“ – Está com frio? – perguntou o pato. – Posso te esquentar?
Ninguém jamais havia feito a ela uma proposta parecida”.


Ao conviver com o pato a morte passa a sentir coisas boas e inúteis da vida como sentar lado a lado sem prescisar dizer nada ou subir numa árvore... enfim ela descobre que as melhores coisas da vida não devem servir para nada...


“Às vezes, a morte podia ler pensamentos.
- Quando você estiver morto, o lago também não vai estar mais lá – pelo menos não para você.
- Tem certeza? – perguntou o pato espantado.
- Certeza absoluta – respondeu a morte.
- Menos mal. Então eu não preciso ficar triste por ele quando...
- Quando você estiver morto – disse a morte.
Era fácil para ela falar sobre a morte.
- Vamos descer – pediu o pato depois de alguns instantes – a gente tem cada pensamento estranho em cima das árvores...”.


Um dia o pato sente frio e pede que a morte o esquente.
Ela o esquenta com o olhar.
Enquanto ele descansa, o carrega no colo com cuidado até o grande rio.


“E continuou olhando o fluxo do rio por um bom tempo.
Quando perdeu o pato de vista, por pouco a morte não ficou triste.
Mas assim era a vida”.




“E onde a tulipa entra nesta história?”. é a pergunta na contra-capa do livro...


A tulipa estava na mão da morte desde que ela apareceu para o pato.
É a flor que o acompanha  em sua jornada para além de morrer.
A tulipa vermelha representa o amor verdadeiro.
Aquele citado pela morte em "a grande questão", o amor que humaniza a morte no livro do saramago.


Viver, buscar sentido e morrer... nossas únicas certezas.
Certezas que nos fogem muitas vezes ao alcance...
Nos cabe então, construir sentidos muito próprios ao que se vive para morrer sempre em paz.




querida amiga, essa é minha maneira de dizer o quanto amo viver.
o quanto te amo e a tudo que você é.
Oiran, em sua vida, construiu sentidos intensos.
isso é viver para morrer em paz...
qualquer que seja a morte, em qualquer que seja o tempo.
amemos mais ainda a vida, em honra a ida dele pelo avesso para além de morrer.

Um comentário:

Anônimo disse...

eu não esqueço do começo, não esqueço!

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