Estou convencida que a transformação social e mesmo a construção de valores éticos permanentes se dá a partir de pertencimento. A família deveria cumprir um papel fundamental na mediação necessária para que o indivíduo possa se localizar nessa coletividade com total consciência de seu poder de agente transformador, conhecendo seus deveres e acessando plenamente seus direitos básicos.
A família (e quando digo família, não falo da convencional apenas, falo de pessoas que perpetuam a existência humana através da maternidade e da paternidade biológica ou assumida) deveria agir na criação e oferta de condições propícias ao desenvolvimento dos talentos de seus membros.
"O psicanalista Hélio Pellegrino traduziu bem a relação da formação do indivíduo como agente coletivo, apontando a estreita ligação entre o pacto social e o pacto edípico e, assim, revelando como o estado reproduz, em sua escala, a estrutura da família. No pacto edípico, que trata da tensão entre pai e filho, o pai é a norma, o limite, a lei, o contrato. Em contrapartida, é ele quem introduz o filho na vida social, que lhe dá segurança, afeto, amor. O pai exerce o papel de pedagogo da convivência social. Não só provê, dá segurança material como também a segurança afetiva que permite ao filho enfrentar os desafios dessa convivência. Em paralelo, afirma Pellegrino, o Estado exerce o mesmo papel na dimensão ampliada. O Estado regula. Com a lei, cerceia nosso lado mais sombrio. Ao mesmo tempo, o Estado também possibilita o convívio social em bases racionais, éticas, dignas. Ele deve possibilitar que seus cidadãos desfrutem da vida, da cultura, do lazer ao assegurar os direitos básicos para alimentação da família, o direito à assistência social em caso de desemprego ou sub-emprego. Tem de assegurar o direito ao trabalho, educação, saúde, segurança. Manter a base de formação de nossa cidadania significa dar estrutura para nossa referência primeira, nosso espaço de formação primeiro que é justamente o espaço familiar."
No livro “Um rio chamado Tempo, uma casa chamada Terra”, do moçambicano Mia Couto, o narrador faz o seguinte comentário sobre seu lugarejo: “Em Luar-do-Chão, nem há palavra para dizer ‘pobre’. Diz-se ‘órfão’. Essa é a verdadeira miséria: não ter parente”. Penso que a falta de parentes é o grau último da miséria. É quando já perdemos tudo, inclusive nossas referências e o braço que nos ampara e dá forças para enxergar as alternativas e seguir em frente".
16.9.09
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Seguidores
Arquivo do blog
-
▼
2009
(333)
-
▼
setembro
(39)
- noite
- comentário
- sentidos
- a menina
- incondicional
- poço
- felicidade
- alinhamento
- passarinho
- determinação
- aproximação
- lugar
- frida
- diamantes
- globalização
- sabedoria
- justiça
- espelho
- covardia
- monstro
- prece
- desespero
- mundo perfumado
- a cor do paraíso
- Estado Patriarcal
- nada
- renascimento
- transformação social
- comidinha
- convite
- 13 anos
- risíveis amores
- crescimento
- natureza
- promessa
- sonho
- fragmentos
- narapoia
- saudade
-
▼
setembro
(39)
quem sou eu?
- ni
- as definições, as conceituações, me entram, como se diz, por um ouvido e saem pelo outro... sou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário