- ei, você tá contando diferente! não vale! alguem reclamou...
-esse é o jeito de minha mãe contar a história.
nisso uma criança que acabara de perder a mãe em circunstâncias trágicas, e que jamais havia mencionado a perda ou a dor, afirmou categoricamente:
-minha mãe morreu e virou um anjo que me protege.
- bobagem! disse um coleguinha impiedoso. - quem morre vira caveira e, depois, pó. foi meu pai quem disse!
a professora fechou o livro e, lenta e cuidadosamente, atraiu a menina para si:
- minha mãe diz que a gente morre, nasce de novo, morre nasce de novo, até aprender tudo que precisa. afirmou uma criança.
- meu pai tem cabelos brancos, será que ele vai morrer? perguntou outra.
- se ele morrer, depois fica pertinho de você só que invisível.
-não, tá errado! quem morre vira passarinho, depois coelho e cachorro.
-não é isso! quem morre vira alma e vive pra sempre nas nuvens.
todos expressaram suas hipóteses, até que uma perguntou:
-o que vc acha?
-eu acredito em tudo. a gente vira pó, vira alma, morre e nasce de novo.
alguem bateu na porta e a roda se dissipou e as crianças se levantaram satisfeitas em sua sabedoria infantil, sem necessidade de uma resposta para o mistério da vida e da morte.
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ao terminar de ler o pequeno registro que acabo de adaptar, chorei.
enquanto chorava o telefone tocou e meu amor noticiou a morte do filho de uma amiga nossa, dessas amigas que fazem parte da vida sem que nela esteja sempre. mas daquelas amigas que são energias que se entrelaçam na dança da vida, nas celebrações.
chorei sua dor.
enquanto isso, meu filho assistia um desenho em que duas menininhas visitavam a avó que completava 100 anos. de presente levaram uma fotografia em que o avô estava entre elas. a avó ficou emocionada. quando elas foram embora, a avó guardou cuidadosamente a fotografia no álbum da família e segundo o narrador da história " se preparou naquela noite para reencontrar seu marido"...
as menininhas aparecem na sequência com duas mudas de carvalho que irão plantar em homenagem aos avós falecidos.
penso na morte como o mistério da vida.
é preciso cultivar a atitude das crianças, de sentir o mistério sem querer respondê-lo. sei que muitos de nós, não foram ensinados assim... mas podemos aprender.
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